A radioterapia pode trazer várias sequelas para os pacientes, como a enterite actínica. Essa entidade patológica se reflete através de cólicas, diarréias repetidas e profusas, podendo evoluir para obstrução intestinal e peritonite, pois há perfuração intestinal. Para evitar mais esse aspecto degradante do tratamento contra o câncer, foram produzidas diversas substâncias químicas com propriedade radioprotetora. Um exemplo é a deferroxamina (DFX).
A radiação induz a formação de radicais livres a partir da água, que corresponde a 70 % da célula, principalmente quando o oxigênio está presente. Dessa maneira, formam-se peróxidos de hidrogênio, ânions superóxidos e radicais hidroxilas. Estas espécies reativas do oxigênio lesam diretamente o DNA, açúcares e causam a peroxidação lipídica e a carbonilação de proteínas das membranas do núcleo e das organelas das células.
A mucosa do estômago e do intestino reage de forma rápida à radiação, diferentemente dos vasos submucosos, das camadas musculares e da serosa. Essa resposta tardia faz com que efeitos tóxicos da radioterapia constituam fatores limitantes da dose para a irradiação pélvica e abdominal, a exemplo do que se observa na Síndrome de Enterite Actínica. Daí a importância da radioproteção química, especialmente quando associada à capacidade de inativar radicais livres derivados do oxigênio e seus subprodutos.
A DFX (C₂₅H₄₈N₆O₈) vem sendo testada em diversos estudos com os quais o estresse oxidativo está relacionado. Estudos demonstram que essa substância bloqueia efeitos deletérios da hidroxila (OH), inibe a peroxidação lipídica e protege tecidos e órgãos dos efeitos da reperfusão pós-isquemia, mediados pelos radicais livres derivados do oxigênio
O ferro, que participa de várias reações fundamentais ao organismo, tem capacidade de aumentar o estresse oxidativo, pois através da reação de Fenton, ele catalisa a cisão do peróxido de hidrogênio, gerando radical OH, que é extremamente instável e agente causador principal do dano oxidativo para os tecidos. A DFX é um potente quelante do ferro, formando um complexo estável que previne a entrada do mesmo em reações formadoras de radicais livres.
Para comprovar a eficácia da deferroxamina na prevenção de enterite actínica, foi feito um estudo experimental com ratos Wistar que mostrou a capacidade dessa substância em diminuir a peroxidação lipídica e a mortalidade, e atenuar as alterações histológicas decorrentes da irradiação intestinal. A DFX demonstrou ter exercido um papel radioprotetor do intestino neste estudo.
Por Lara Teixeira
Fonte: Revista Brasileira de Cancerologia
Justo o que eu procurava sobre profilaxia
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